quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Pedagogia construtivista de Lev Vygotsky (1896-1934)

Lev Vygotsky nasceu, na Bielo-Rússia, em 1896. Depois de
receber aulas particulares de Solomon Ashpiz, frequentou e trabalhou
no Instituto de Psicologia de Moscovo, entre 1923 e 1934, onde teve
oportunidade de desenvolver as suas teorias sobre o
desenvolvimento cognitivo e a relação entre o pensamento e a
linguagem. Viria a morrer, aos 38 anos, de tuberculose. Deixou uma
obra vasta, composta por seis volumes (1), escritos ao longo de uma
carreira curta de apenas dez anos.
Desconhecido no Ocidente, a sua obra foi descoberta na década
de 60 do século passado, graças às primeiras traduções dos seus
livros. O impacto de Vygotsky nos meios educacionais ocidentais foi
tremendo e talvez só seja comparável à influência e popularidade de
Jean Piaget. Juntamente com Jean Piaget, Lawrence Kohlberg e Paulo
Freire, Lev Vygostky faz parte de uma galeria de grurus educacionais
com enorme aceitação nas escolas de educação e a sua obra
influenciou grandemente as políticas e orientações educativas, na
Europa Ocidental, nas últimas três décadas do século passado.
Curiosamente, o pensamento pedagógico de Lev Vygotsky nunca
conheceu tanta influência e popularidade na União Soviética, onde,
apesar da sua ortodoxia marxista, fora encarado, durante os regimes
de Staline, Krutchov e Brejnev, como um comunista da ala direita,
contaminado por um certo idealismo burguês. Provavelmente, a
morte prematura de Lev Vygotsky tê-lo-á poupado às purgas
estalinistas que conduziram à morte, por perseguição política, de
mais de 20 milhões de pessoas, de entre as quais muitos milhares
intelectuais tão fiéis ao marxismo e ao comunismo como Vygotsky
fora.
Embora, a teoria social da aprendizagem de Vygotsky não
introduza nada de radicalmente diferente em relação à teoria
construtivista de Jean Piaget, a sua popularidade nos meios
educacionais de esquerda só é comparável à influência de Paulo
Freire. Na verdade, tanto Vygotsky como Piaget partilham a visão
construtivista, assente na ideia de que a única aprendizagem
significativa é a que ocorre através da interacção entre o sujeito, o
objecto e outros sujeitos (colegas ou professores). As outras formas
de aprendizagem, como sejam a imitação, a observação, a
demonstração, a exemplificação e a prática dirigida são colocadas em
lugar secundário tanto por Piaget como por Vygotsky. O que
verdadeiramente distingue Vygotsky de Piaget é a descrença do
primeiro em relação a uma hierarquia de estádios do
desenvolvimento cognitivo tão estanque e determinista como a que
Piaget desenvolveu. Vygotsky, à semelhança do que mais tarde faria
Jerome Bruner, dá, igualmente, maior relevo aos contextos culturais
e ao papel da linguagem no processo de construção de conhecimento
e de desenvolvimento cognitivo. De resto, há muitas semelhanças.
Até mesmo a teoria da zona de desenvolvimento próximo, central na
teoria da aprendizagem do pedagogo soviético, não é muito diferente
das propostas de Piaget ou de Kohlberg sobre as tarefas
moderadamente discrepantes, ou seja, sobre o potencial educativo e
desenvolvimentista das tarefas de ensino que não sejam nem muito
difíceis nem muito fáceis para o aluno. Como é sabido, Piaget defende
que as tarefas devem provocar um desequilíbrio cognitivo moderado
que permita ao aluno passar por um processo de assimilação e de
acomodação que potencie o desenvolvimento dos esquemas mentais,
em direcção a uma nova equilibração e por aí adiante. A teoria da
zona de desenvolvimento próximo tem, de facto, grandes
semelhanças com a teoria da equilibração de Jean Piaget. A
aprendizagem mais significativa é que se baseia no processo de
construção do conhecimento por parte dos alunos. Esse processo de
construção é tanto melhor conduzido quanto melhor o professor for
capaz de criar ambientes de aprendizagem que potenciem a
interacção entre alunos em estádios cognitivos ligeiramente
diferentes ou em fases de transição de estádio.
Vygotsky defende que a criança aprende melhor quando é
confrontada com tarefas que impliquem um desafio cognitivo não
muito discrepante, ou seja, que se situem naquilo a que o psicólogo
soviético chama de zona de desenvolvimento próximo. Esta teoria
tem implicações importantes no processo de instrução: o professor
deve proporcionar aos alunos a oportunidade de aumentarem as suas
competências e conhecimento, partindo daquilo que eles já sabem,
levando-os a interagir com outros alunos em processos de
aprendizagem cooperativa.
Provavelmente, a maior originalidade da teoria de Vygotsky
reside na ênfase que ele dá ao papel dos contextos culturais e da
linguagem no processo de aprendizagem. Jerome Bruner desenvolveu
esta ideia e introduziu-a na proposta de currículo em espiral, o qual,
no fundo, é uma aplicação da teoria da zona de desenvolvimento
próximo.
Vygotsky enfatiza a ligação entre as pessoas e o contexto
cultural em que vivem e são educadas. De acordo com ele, as
pessoas usam instrumentos que vão buscar à cultura onde estão
imersas e entre esses instrumentos tem lugar de destaque a
linguagem, a qual é usada como mediação entre o sujeito e o
ambiente social. A internalização dessas competências e instrumentos
conduz à aquisição de competências de pensamento mais
desenvolvidas, constituindo o cerne do processo de desenvolvimento
cognitivo.

Fonte: http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/A%20Pedagogia%20construtivista%20de%20Lev%20Vygotsky.pdf

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